Pedro aos 24 anos

Pedro aos 24 anos
Pedro alimentando o pássaro

domingo, 11 de setembro de 2011

um pouco do brasil - o mito da "miséria do homem primitivo" (VI)

E outra vez o óbvio que passava pelas janelas dos meus olhos, que eu via, reconhecia, mas não "materializava". Nas minhas viagens, sempre preferi lugares isolados, pouco afetados pelo homem, ilhas, praias desertas, montanhas, mas nunca tinha parado para pensar, de um jeito sóbrio, sobre a lenda da "miséria do homem primitivo". Eu tenho alguma relação de identidade com o povo africano, e isso me dá o sentimento de que o ideal está no passado, porque se hoje estamos aqui é porque o passado ao menos funcionou, e pensava isso porque todos os dias gritam os jornais e os esgotos que nossa sociedade 'civilizada' caminha para uma veloz e voraz extinção. Mas até aí, ainda assim, não tinha tornado sólida a reflexão de que vivemos numa sociedade que educa de modo a formar uma ideia na qual o presente é melhor do que o passado, que no passado os homens viviam a miséria das chuvas, das secas, das fortes ondas de calor e de frio e, vende ainda, que o homem era totalmente frágil para enfrentar essas vicissitudes. Argumentos não faltam a eles, hoje vivemos mais, temos uma infinidade de aparatos tecnológicos, a medicina garante uma enorme sobrevida. Porém, o que garante essa miséria no passado do homem? Por que esse discurso é um discurso embasado em vitórias da ciência, mas essa mesma ciência, como um câncer, se consome. O avanço científico das descobertas sobre as vidas "primitivas"  levam a crer que não se morria de fome, que o homem não se matava por espaço, que não havia dominação absoluta de um povo sobre outro. Enfim, a ciência caminha para descobertas que revelam que a miséria do homem está aí hoje em dia, e quem criou as mazelas que hoje tentamos vencer foi o próprio homem.

(Postado originalmente por Pedro Gomes em 21 de maio de 2007 no Blog http://pedro-gomes.blogspot.com/)

um pouco do brasil - risco (V)

Afora as revelações desse tipo de suicídio entre os gaúchos, há outras formas dos homens de lidar com a vida: o risco, por exemplo. O risco que faz de médicos, fumantes, que faz as pessoas transarem sem usar camisinha, que é também o risco aparentemente gratuito dos esportes radicais. Penso comigo: "Sou desses que, se não desandar, têm a vida ganha, então porque, não raras às vezes, me exponho aos riscos gratuitos, e o faço sem culpa, ao contrário, faço com e pelo prazer?" E vi que a resposta estava na própria pergunta: é no tratamento que está a vida. O risco, se se realiza, é acidente e acidentes são inevitáveis, não adianta usar cinto de segurança, capacete, preservativo, porque se tiver que dar errado, a camisinha estoura - vive-se como se houvesse um transcendental inexorável. O risco é incorporado como inevitável, pouco adianta lutar contra. Mas, talvez, a graça da vida seja vencer os riscos, se expor e seguir adiante. É todo dia se matar um pouco com um trago e, ao primeiro que lhe falar sobre o risco, responder: "E se eu for atropelado num ponto de ônibus? Vou perder o prazer desse trago à toa". Antes disso, perguntei a um amigo, ao vê-lo com um capacete na mão, se ele queria morrer, se não sabia que a moto foi feita pra cair, afinal, "só tem duas rodas" e ele me respondeu: "Morrer, eu num quero, não, mas se tiver chegado a minha hora..." Sozinho nos meus pensamentos, me lembrei disso e ri comigo mesmo.

(Postado originalmente por Pedro Gomes em 21 de maio de 2007 no Blog http://pedro-gomes.blogspot.com/)

um pouco do brasil - suicídio (IV)

Outra bomba sobre o Brasil: o suicídio. Apesar de conhecer pessoas próximas que deram fim à sua própria vida durante à juventude, recusava-me, de forma cega, a enxergar nisso um traço que também tem se feito presente na rotina brasileira. Porque, na visão 'gringa' do brasileiro, nós amamos viver, apesar de todas as mazelas nos entregamos ao carnaval, ao futebol e à cachaça, e, assim, vencemos e passamos pelas amarguras. Mas, como disse Vinícius de Moraes, viver dói aos brasileiros, por isso o povo se transborda, e esse transbordamento se dá muito porque a tristeza está sempre por bater à porta dos brasileiros e o povo luta para não se entregar à miséria que a vida tenta lhe impor. Porém descobri que no sul do país a rotina do suicídio existe, e se matar não é um ato covarde. Portanto, mais do que entender sobre o suicídio - talvez a proximidade com essa violência ainda me cegue - posso reforçar a questão da honra, da masculinidade no Brasil. Por debaixo das mortes dos gaúchos grita um direito masculino de querer ser mais forte que a vida, e talvez os brasileiros sejam mais fortes que a vida muitas vezes. A vida que desmorona com as chuvas, que se petrifica na seca, e que nos gaúchos, envelhece. É claro que a resposta de cada brasileiro à dor da da vida é uma, uns insistem em vencê-la pela insistência em viver, como é o exemplo dos moradores de favelas, outros, porém, insistem em vencer a vida acabando com ela antes que ela acbe com a dignidade humana, como é caso dos gaúchos. Essa dignidade significa a juventude, significa ser forte para vencer tudo e todos, e vencer a vida quando ela começa a tomar as rédeas.

(postado originalmente por Pedro Gomes em 21 de maio de 2007 no Blog http://pedro-gomes.blogspot.com/)

um pouco do brasil - mulher (III)

Esse patriarcalismo que o português impôs aos outros povos reflete até hoje na sociedade brasileira também na relação homem-mulher. Ao homem cabe o poder, a força, a razão e tudo isso eu, Pedro, sempre desconfiei. Mas aprendi que à mulher, classificações como sexo frágil ou aquela que se pauta pela emoção são formas de se construir uma mulher dependente em relação ao homem; dependencia como seria a do africano e do indígena em relação ao português. Mas a palavra final, na sociedade brasileira, dentro do ambiente familiar, é da mulher, os problemas íntimos sempre caem no colo da mulher brasileira, responsável por solucioná-los. O homem vende aos outros homens um poder sobre a mulher, e os outros homens sabem que precisam comprar esse juízo, afinal eles também querem que os outros homens o vejam assim também. Mas é saudável notar que com o crescimento das grandes cidades, pesou à mulher a responsabilidade de educar os filhos sozinha, pesou à mulher o cargo de chefe de família, mas a elas, e no fundo, isso não foi um peso, sobre elas sempre pesou essas responsabiliodades, mas, antes, o homem, quando saía de casa com sua família, fazia questão de ser o porta-voz da casa, por mais que no ambiente familiar não o fosse.

(postado originalmente por Pedro Gomes em 21 de maio de 2007 no Blog http://pedro-gomes.blogspot.com/)

um pouco do brasil - de três raças (II)

Então, que povo brasileiro é esse? Numa música, o poeta Vinícius de Moraes diz: "Venho de três raças muito tristes e eis porque viver tanto me dói, mas não tenho, não, qualquer vocação para ser herói". Somos a mistura dos povos indígenas, português e africano. Africanos e indígenas são classificações muito amplas, os negros africanos vieram de uma região central daquele continente, e os índios, esses sim, estavam espalhados pelo Novo Continente. Já, ao afirmar a influência do povo português, ao invés de dizer europeu, fica claro que temos uma influência européia, mas uma Europa menos fechada, uma Europa que tinha o litoral como parte de seu territorio, uma Europa que desejava sair para o mundo disposta a explorá-lo e conhecê-lo. Essa mistura levou a uma realidade social curiosa, na qual o branco se impunha sobre outras raças, mas dependia delas. Criou-se uma relação familiar, com o branco português como chefe da casa. Hoje, no Brasil, reforça-se a ideia de um país mestiço, principalmente no discurso dos brancos, reforça-se a ideia de um país sem preconceito. Porém, os que são negros, ou 'mais negros', sabem que não são tratados como mestiços (em igualdade de respeito em relação aos 'mestiços mais brancos'), quando isso não interessa ao branco. Portanto, tem-se no Brasil a moral de um país dividido entre os 'mais pra brancos' e os 'mais pra negros'. Tanto é, que qualquer discurso negro que reforce sua raça, como faz o hip-hop, é visto como uma postura radical. Num rap do grupo Racionais Mc's, há um trecho que seria a voz de um policial dizendo "Escuta aqui, o filho do cunhado do meu primo é mestiço, racismo não existe, comigo não tem disso, é pra sua segurança". E, na sequência da música, o rapper Mano Brown responde: "deixa pra lá, vou escolher em qual mentira devo acreditar".

(postado originalmente por Pedro Gomes em 21 de maio de 2007 no Blog http://pedro-gomes.blogspot.com/)

um pouco do brasil - introdução (I)

Caso me perguntassem o que é a cultura Brasileira, eu me encheria de vírgulas e detalhes para não chegar em ponto final algum; não que essa objetividade seja necessaria. Mas é complicado falar sobre um país continental, que extrapola a Linha do Equador e o Trópico de Capricórnio. E a pergunta levou-me ao chão simples e vasto dos brasileiros: Porque 'cultura brasileira' com letras minúsculas? Antes dessa pergunta, eu poderia, no máximo, refletir sobre Culturas Brasileiras, mas trocar o substantivo proprio pelo comum é o caminho para se construir um discurso mais sincero, para iluminar as curvas de como vive e se relaciona o povo brasileiro; e no singular mesmo, até porque um dos desafios de se estudar cultura brasileira é reconhecer aquilo que faz de todas as pessoas que vivem no Brasil serem reunidas num grupo denominado brasileiro.

(postado originalmente por Pedro Gomes em 21 de amio de 2007 no Blog http://pedro-gomes.blogspot.com/)

Maraca


De impuulso, impacto
num ferver alucinante
Personagens, arena
milhares pagantes

Uma conversa explícita
posições nítidas
dois lados, um desejo
e um ausente apita

Nos que não jogam, os nervos torcem
se contorcem, entram em campo, querem gritar
Gritam o tempo todo
mesmo quando silenciam

mas o grito que se quer
tem três letras, um som
lá do outro lado, o silencio
aqui:Gol!

Pedro, meu filho, no Macanã
(postado originalmente por Pedro Gomes em 17 de maio de 2007 no Blog http://pedro-gomes.blogspot.com/)
Pedro, meu filho  e seu sorriso alegre

Pedro, meu filho e a pipoca da festa

sábado, 10 de setembro de 2011


Pedro na praia, aos 24 anos - Argentina
 A extenção da costa
Só pode ser alcnçada pelo vento
Que sopra com as mãos na areia
e com o corpo no mar

O vento vaga
Com desdém ao infinito
Faz pouco caso do horizonte
indo e vindo

Por vezes, o vento sopra suave
Quase macio
Por outras, assume tamanha furia
A dizer: sou imbatível

Vento amigo
 Nunca descansa
 Como sempre lembrasse:
 Levante!

(postado originalmente por Pedro gomes em 15 de maio de 2007 no Blog http://pedro-gomes.blogspot.com/

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A bôua

Que noites intermináveis
no acordar de tantos esquecimentos
lembranças e sorrisos
momentos

Noites a céu aberto
um esvaziar eterno de copos
instantes, recortes
ali, os corpos

Entre infinitos adiantes
desgovernáveis rumos
nunca tudo igual
nunca falta assunto

Tampouco falta calor
nas noites que não se dorme
vida que se sangra
nos dados da sorte

(postado originalmente por Pedro Gomes em 11 de maio de 2007 - http://pedro-gomes.blogspot.com/)

Camelôs

Os homens de paus e pedras trabalhavam a pouco
Quando um careca louco, sentado no trono
ordenou: Hoje é dia de sufoco!

Meio-dia, as tartarugas ninjas sedentarias,
Por medida do mercado têm de passar o sarrafo
Coletar pirateado dos formais desempregados
Que não têm carteira, mas têm sindicato

O centro da cidade encendeia com a força do Sol
A classe media vê dos altos dos escritorios
Gritos e sangues na massa de pobres

Surjo logo apó o término
A Carioca respira enfermo
Vejo o circo desmontando
Ainda ouço berros

(postado originalmente por Pedro Gomes em 11 de maio de 2007 - http://pedro-gomes.blogspot.com/

Aterro do Rio de Janeiro

Tá rápido, sem linha as cores


Rá-rá, me dá isso aqui, porra
Rá-rá
Ai, porra, á, ááá, caralho, é foda, essa vida de mer...
...
Que sol, porra...


Acorda, coça a cara. O gramado brilha e ele lá, sozinho, estatelado
no chão e um sol escaldante. A cara amaçada com a boca suja nos
cantos. A roupa é a mesma de sempre: suja e rasgada.


Porra, que fome.
Tio, dá pá pagar um pão pá mim?
Dá um pão pra ele. Mas some daqui!

(originalmente publicado em 4 de março de 2007 - http://pedro-gomes.blogspot.com/)

CRIVOS http://pedro-gomes.blogspot.com

Este é o nome e o site do Blog criado pelo meu filho Pedro Gomes. Ainda pode ser acessado.
Pedro formou-se em jornalismo pela PUC-Rio, cursava mestrado e trabalhou na PUC, na radio Catedral, na revista Ciencia Hoje e na TV Educatica (hoje Tv Brasil), programa Sem Cencura.
O primeiro poema publicado no Blog de sua autoria data de 4 de março de 2007.
Em 30 de julho de 2007, Pedro faleceu aos 24 anos, em Caraiva, Bahia, deixando inúmeros escritos em cadernos, folhas soltas e no computador.
A ele dedico minhas mãos para continuar a postar os seus textos e meu amor para seguir em frente.

Lúcia Gomes, mãe do Pedro

Pedro, aos 24 anos, na Argentina